Cinemateca Brasileira e Museu Mazzaropi vão recuperar e digitalizar filmes de Amácio Mazzaropi

Projeto aprovado pela Lei Paulo Gustavo também contempla mostras de cinema e debates sobre o ator e produtor nas duas instituições em 2024.

A Cinemateca Brasileira e o Museu Mazzaropi vão recuperar e digitalizar seis filmes de Amácio Mazzaropi (1912-1981). Aprovado por edital da Lei Paulo Gustavo, pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, o projeto “Digitalização e Difusão de Obras de Amácio Mazzaropi” tem investimento de R$ 200 mil e inclui mostras e debates no segundo semestre deste ano, tanto na sede da Cinemateca Brasileira, na capital, quanto no Museu, em Taubaté.

Conhecido pelo personagem do caipira, que marcou sua carreira, os filmes dos quais Mazzaropi participou se caracterizavam pelo humor, às vezes com um toque de melodrama, que abordavam temas e discussões importantes como o racismo, a reforma agrária, injustiças sociais, e a relação entre campo e cidade. Assim, Mazzaropi construiu um conjunto de obras que se voltou para o cotidiano de grupos marginalizados da sociedade brasileira, tendo o humor como ponto central e uma linguagem popular capaz de alcançar números de bilheteria impressionantes.

“A obra de Mazzaropi ocupa um lugar especial na história do cinema brasileiro pelo seu alcance popular. Com essa importante ação, a Cinemateca Brasileira reforça seu objetivo primordial de preservar o audiovisual e de disponibilizar o acervo através do processo de digitalização”, destaca Maria Dora Mourão, Diretora Geral da Cinemateca Brasileira.

“Mazzaropi fez um cinema genuinamente brasileiro que continua sendo visto e revisto. Seus filmes ainda hoje inspiram cineastas e artistas que, como ele, buscam retratar o Brasil. O restauro digital destes seis filmes vai reavivar Mazzaropi e as nossas brasilidades”, complementa Claudio Marques, Curador do Museu Mazzaropi.    

Para a recuperação das obras, o processo contempla ações de pesquisa, conservação e digitalização de 6 títulos, que passarão a contar com cópias em formato DCP para circulação em salas de cinema. “Ao lado de tantos outros filmes brasileiros, a obra de Mazzaropi merece ser restaurada, preservada, assistida e pesquisada”, ressalta Arthur Feijó, Conselheiro do Instituto Mazzaropi.

A Mostra a ser realizada pela Cinemateca contará com os títulos digitalizados por meio dos recursos da Lei Paulo Gustavo, além de outros títulos relevantes da carreira de Mazzaropi, também integrantes do acervo da Cinemateca Brasileira.

“O projeto potencializa ações de preservação e difusão da vida e obra de Mazzaropi. A digitalização, como eixo fundamental da cadeia de preservação audiovisual, facultará o acesso amplo e qualificado a títulos importantes da filmografia de Mazzaropi – como ator e diretor. A parceria com o Museu reforça o compromisso da Cinemateca Brasileira em atuar conjuntamente com seus pares na valorização de nosso cinema”, pontua a Diretora Técnica da Cinemateca Brasileira, Gabriela Sousa de Queiroz.

Os filmes contemplados no projeto pertencem aos acervos da Cinemateca Brasileira e do Museu Mazzaropi. São obras que não possuem cópias digitais para difusão e são importantes para filmografia de Mazzaropi, como a sua estreia no cinema, Sai da frente (1952), dirigido por Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne e produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz; O Corintiano (1966), de Milton Amaral, que contém cenas de jogos do Corinthians. 

LEGADO DE MAZZAROPI

A Cinemateca Brasileira conserva mais de 200 materiais audiovisuais relativos à filmografia de Amácio Mazzaropi, cujos direitos estão distribuídos em diferentes detentores; além de uma coleção de cerca de 600 fotografias, cartazes e outros materiais documentais. 

O Museu Mazzaropi foi criado em 1992, em Taubaté, SP, onde, na década de 70 até meados de 80, existiam os estúdios de cinema da PAM Filmes.  Possui o mais representativo acervo sobre a vida e obra do artista, com cerca de 20 mil itens, entre fotos, documentos e objetos; e atende visitantes e pesquisadores das áreas de cinema, TV, rádio e teatro, cultura popular, além de estudantes e público em geral.

LISTA DE FILMES CONTEMPLADOS PARA DIGITALIZAÇÃO

1. Sai da frente (1952), direção de Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne – Titularidade Cinemateca Brasileira. 

    Produção da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e estreia de Mazzaropi no cinema, na qual ele interpreta um motorista de caminhão que precisa fazer uma mudança de São Paulo para Santos, mas acaba se envolvendo em diversos contratempos.

    2. Candinho (1953), direção de Abílio Pereira de Almeida – Titularidade Cinemateca Brasileira.

      Terceiro e último filme de Mazzaropi produzido pela Vera Cruz. O papel do caipira, que se tornaria recorrente na filmografia do ator, aparece pela primeira vez. O filme é baseado no conto Cândido, ou o otimismo, de Voltaire.

      3. Zé do Periquito (1961), direção de Amácio Mazzaropi e Ismar Porto – Titularidade Museu Mazzaropi.

        O romance impossível entre o jardineiro de um colégio e uma estudante foi o segundo filme dirigido por Mazzaropi, após sua estreia na direção com As aventuras de Pedro Malasartes, no ano anterior.

        4. O Lamparina (1964), direção de Glauco Mirko Laurelli – Titularidade Museu Mazzaropi.

          Neste filme, Mazzaropi é um trabalhador do campo que acaba se juntando, por acidente, a um bando de cangaceiros, tornando-se o destemido e atrapalhado Lamparina. Sátira dos filmes de cangaço, gênero muito popular no cinema brasileiro.

          5. O Corintiano (1966), direção de Milton Amaral – Titularidade Museu Mazzaropi.

            Mazzaropi interpreta um corintiano fanático que entra em conflito com os filhos e com os vizinhos palmeirenses. O filme contém cenas de jogos reais do Corinthians, nas quais aparecem os jogadores Rivellino e Dino Sani, entre outros.

            6. O Puritano da Rua Augusta (1966), direção de Amácio Mazzaropi – Titularidade Museu Mazzaropi.

              Nessa sátira de costumes, Mazzaropi interpreta um pai de família conservador e moralista que, após um ataque do coração, passa a agir feito jovem outra vez, mudando o cabelo, as roupas e o gosto pela música. O filme conta com participações especiais de diversos músicos, incluindo Elza Soares.

              Assista ao curso Cinema Francês Contemporâneo

              Nos dias 3 e 4 de fevereiro de 2024, a Cinemateca Brasileira organizou o CURSO CINEMA FRANCÊS CONTEMPORÂNEO, dentro da mostra de filmes homônima. Com 2 encontros presenciais, as aulas foram ministradas pelo Michel Marie, da Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle).

              Historicamente, o cinema francês usufrui de um enorme destaque na cinematografia mundial por suas experiências formais e pelas reflexões teóricas que provoca – sobretudo pela geração da NoUvelle Vague e seus consagrados auteurs (autores). Embora esteja em outro momento histórico, o cinema contemporâneo da França ainda demonstra ser uma forte potência, com experimentações estéticas diversificadas e recortes temáticos de relevância. Diante dessa ampla produção, o curso ministrado pelo professor francês Michel Marie busca ressaltar alguns destaques das muitas vertentes do cinema francês pós 2010, passando por documentários, animações e ficções de diferentes gêneros.

              Assista às aulas abaixo:

              SOBRE O MINISTRANTE

              Michel Marie é professor de história e de estética na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), no departamento de cinema e audiovisual. Lecionou no Québec, na cátedra de estudos franceses contemporâneos da Universidade de Montreal, e no Brasil, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi presidente da Associação Francesa de Pesquisa em História do Cinema e é vice-presidente da AFECCAV (Associação Francesa dos Professores e Pesquisadores de Cinema e Audiovisual). Reconhecido internacionalmente no âmbito da história e teoria do cinema, é autor de diversos livros, dentre eles A Nouvelle Vague e Godard e Dicionário teórico e crítico de cinema.

              Assista ao Curso Mulheres Pioneiras no Cinema

              Entre os dias 6 e 16 de dezembro de 2023, a Cinemateca Brasileira organizou o CURSO MULHERES PIONEIRAS NO CINEMA, dentro da mostra de filmes homônima. Com 4 encontros presenciais e transmissão online pelo YouTube, as aulas foram ministradas pela pesquisadora Marcella Grecco e também contou com uma palestra com Kate Saccone, gerente de projetos do Women Film Pioneers Project.


              O programa aborda os trabalhos de pioneiras de diferentes países, incluindo um destaque para a brasileira Cleo de Verberena, sobre a qual Marcella lançou um livro em 2022.


              O curso e a mostra MULHERES PIONEIRAS NO CINEMA fazem parte do Projeto Viva Cinemateca, que reúne os grandes projetos da Cinemateca Brasileira voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica. O projeto conta com o patrocínio estratégico do Instituto Cultural Vale, o patrocínio master da Shell e Itaú como copatrocinador.


              As aulas estão disponíveis no canal da Cinemateca Brasileira no YouTube:

              SOBRE O CURSO

              Ementa:
              As mulheres sempre estiveram envolvidas nas mais variadas áreas de cinema. Diretoras, roteiristas, montadoras, produtoras do começo do século passado permaneceram invisíveis por muito tempo. Porém, nos últimos anos, um movimento coletivo de (re)descoberta de mulheres que fizeram história recupera essas personagens, dando sua justa importância.
              Nesse processo de resgate da história de mulheres que faziam cinema no seu início, uma pergunta frequente é: como não as conhecíamos?
              Por que desconhecíamos até recentemente a história de Alice Guy ou Lois Weber, pioneira estadunidense que apenas em 1916 dirigiu dez longas-metragens e roteirizou nove destes para a Universal? E por que sabemos tão pouco sobre Elvira Notari, primeira e mais produtiva diretora italiana com 60 longas e centenas de curtas entre 1906 e 1930? Quando fazemos estas perguntas fica claro que o esquecimento não está relacionado à quantidade de filmes que fizeram ou à importância que tiveram, e sim ao fato de serem mulheres. Apesar dessa participação múltipla no desenvolvimento do cinema, como linguagem e indústria, suas histórias foram ignoradas ao longo de anos.
              O curso apresenta um panorama das pioneiras do cinema de diversos países. Oferecido gratuitamente pela Cinemateca Brasileira, as aulas são ministradas pela pesquisadora e doutora Marcella Grecco, com uma palestra ministrada pela pesquisadora Kate Saccone.

              Estrutura:
              Aula 1 (06/12): INTRODUÇÃO ÀS PIONEIRAS – elas faziam cinema
              Aula 2 (07/12): ALICE GUY E LOIS WEBER – caso francês e estadunidense
              Aula 3 (13/12): CLEO DE VERBERENA – pioneira nacional
              Aula 4 (16/12): Palestra com Kate Saccone sobre o Women’s Film Pioneers Project

              Sobre as ministrantes:
              Marcella Grecco é doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (ECA/USP) e autora do livro “Cleo de Verberena e O Mysterio do Dominó Preto (1931)”, publicado em 2021 pela Editora Giostri. No ano de 2018 foi contemplada com bolsa de doutorado sanduíche e permaneceu um semestre na Columbia University, em Nova Iorque, quando integrou o Women Film Pioneers Project. Possui mestrado em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pós-graduação em Jornalismo Cultural pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e graduação em Comunicação Social – habilitação em Midialogia também pela UNICAMP.


              Kate Saccone é pesquisadora e curadora, atualmente em Amsterdã. É gerente de projetos e editora do Women Film Pioneer Project da Universidade de Columbia (https://wfpp.columbia.edu/).